reca(n)to (a)moral

Numa destas manhãs de torpores infindos em que, endrominando o marasmo genital com o Treatise on Probability do ai-jesus-que-lá-vou-eu J.M. Keynes, ora afigurava a Madame de Pompadour a contemplar das mais altas nuvens o Petit Trianon e a outra cabra lá dentro – até se me partiu a alma – ora me refugiava debaixo das saias da mãe – sem espreitar, claro está (com o eidos de neto de judeus abastados por seu turno netos de judeus esquartejados não se brinca), recebi uma solicitação de amizade hi5. Vinha de uma mocinha que, a par de foto alegadamente sua com dedo poisado nos lábios (por sinal assaz carnudos), me informava que fora criada às costas de preta em casa de vizinhos amigos do seu amigo de apelido estrangeiro e carteira recheada com o triste hábito de se desdizerem a toda a hora. Foi a essa disparidade normativa na história pessoal que atribuiu a cara de anjo agoniado que dela se assenhorou a partir da idade do Édipo e o embaraço dos pretendentes quando, com uma corda de nylon envolta no pescoço, propala que é uma fera amansada que só quer juntar os trapinhos com um badameco d’Azeitão macilento como uma top-model e pestilento como um hippie. Pressionada pela minha incredulidade a plasmar o relato biográfico em literatura delicodoce ou, no dizer-fazer da Lygia Clark, em vómito fantasmático (não é nada a mesma coisa, mas eu também não sou nada a mim mesmo), deu-se-lhe resumir e emendar a vida antes dos trinta: tiro meu, queda deles. Tal e qual as aspas e a passagem pelo Ruskin College na peugada da Mónica e do Vasco que nunca me convenceram. O que ando cá a fazer? Nada. Rigorosamente nada. Cedo e de boa vontade a velha cruz de plasticina a outro. Faço-me mais um para a caderneta amarelecida da Collectioneuse.

Se volto, e quando? Volto, então não havia de voltar; na manhã de nevoeiro.

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