a infelicidade enquanto cão

Passear a infelicidade como se fosse um cão. Fazer-lhe festas no lombo, acariciar-lhe o focinho. Meter a infelicidade na cama e sentir o calor antigo. Oh, o conforto da infelicidade a abanar o rabo, fidelíssima; a lamber as pernas, matreira; a ganir, apalermada; a ladrar, quando cheira alguém estranho.
Leva-se à rua a infelicidade e há sempre quem meta conversa:
- Essa infelicidade é sua? Coitadinho, que ternura, coitadinho.
E então alimenta-se a infelicidade com bocados de carne (própria) e goza-se a bestial pacificação do estar na merda.

Comentários

Anónimo disse…
Genial. Só me apetece ganir.
vá, querido Diogo, atira a primeira pedra (de haxe:)
Márcia Maia disse…
um dos melhores textos que li ultimamente. parabéns.
Anónimo disse…
Quem nunca pecou que apanhe a primeira pedra.
rff disse…
A infelicidade é de facto um bocado canina...
Márcia, obrigada! Diogo, e nós a segunda. Rff, também acho
Ti disse…
Brutal.
Hortelã Pimenta disse…
Em sentido figurado aconselha-se a abandonar o canito numa auto estrada num dia de ferias, não?
Ou nem este cão se pode abandonar??
RC disse…
Não consegui resistir e citei-te no meu blog. Um dos melhores textos que já li.

Um xi.
Cavaleira, é fidelíssima. A pressão social (e outras) não aceita o abandono na estrada. RC, muchas gracias
Anónimo disse…
Um excelente texto!


(Lyra
de um blog em vias de extinção)

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