
Estou por aqui de ir ao telhado expor o canastro a revés de monta e o embaraço aos olhares indiscretos de vizinhos e ap(i)e(d)ados com tanta queda para a desgraça (alheia e não só) quanta imunidade ao torcicolo. Por que ando há anos a traquejar acrobacias à beira do precipício? Para recolher cadáveres em decomposição e ossadas de pombos e pombas que obstruem as caleiras e provocam chuva copiosa dentro de casa que é tudo menos uma bênção dos céus – o Noé que o diga. Acresce que o rulhar de frenesi genital dessas ratazanas-do-céu no parapeito da janela do sítio em que arrumo as ideias põe-me os nervos em franja e o freio nos dentes. Dantes, na minha generosidade franciscana, quando ao volante avistava um pombo no meio da rua vulnerável a pneumáticos de secção larga, travava e ficava com o coração nas mãos antecipando angústias póstumas. Hoje acelero com um único objectivo em mente: esborrachar o animal. Indignem-se, anojem-se, voltem a cara, invoquem o nome do Senhor, façam o sinal da cruz, queixinhas à Federação Nacional de Columbofilia, aos Serviços de Informação da República, ao Gabinete do PM, tirem-me do vosso filme, vão sem tenção de voltar, façam ranger a porta, insultem-me, mandem-me comer mais hortaliça, para o campo, é convosco. Mas poupem-me à lenga-lenga de que o
killer instinct tem de ser canalizado para actividades produtivas.