maria elisa
O rapaz chegou do caminho ermo de terra lamacenta que rompia do mato denso. Após se anunciar fazendo vibrar a velha campana parcialmente carcomida pela oxidação, entrou no portão, atravessou as lajes de pedra cobertas de gravilha e folhas que a morrinha e o ar morno haviam molificado formando um sedimento que amortecia sua marcha e deteve-se. Antes de falar, solevou a boina que trazia descaída sobre a nuca. Maria Elisa, não cisma, não. É preciso, ou estes senhores ficam órfãos de luto e depois arreliam-se e desaguisam uns com os outros e em sérios perigos ficam, claudicantes. Dá-me a mão, vai.
Maria Elisa esperava-o e não esperava estranhar. Tanto, pois que foi, como a quem é desvendado um segredo que não pode transitar entre vivalmas. Pegou na sombrinha que estava encostada à coluna direita do pórtico da casa, abriu-a numa abertura de gente casual, tomou o lado de fora da porta e disse, pausando na sílaba do começo: tenho mêdo. Assim, abaixando a cabeça, recolhendo-a entre os ombros, muito menina de carapito no cabelo, a cara encovada, a voz sumida, a saia subida para mostrar as meias de seda rosa a dizer com o xaile delicado que lhe velava os ombros.
Ai, Maria Elisa, olhe bem para mim: acha que vim aqui para cortejá-la? Só lhe trago uma ideia fixa. Fez a forma da concha das mãos. Pula aqui, vai.
Maria Elisa olhou, como ele instruira, ainda inquieta, mais que pressentida. Eu sei que não, mas mulher nunca perde o brio, nem quando vira natureza singela. E quis dialogar. Diálogo curto, incisivo.
- Aonde irei agora?
- Isso importa? Tu está acontecida, Maria Elisa. Não puxa conversa que tonteia. As fábulas do verbo são d’atrás, do amanho bom e mau do coração. Põe ponto. Vem.
- E se a minha alma pena?
- Que à toa, Maria Elisa. Não regateia com coisas que sobejam o trato humano. Prosseguiu já em jeito de pia-melopeia:
As copas das sequóias gigantes
E dos jacarandás mimosos
Perdem a silhueta
Quando as nuvens interpõem
Separando a Terra do Céu.
Entendeu agora, Maria Elisa?
- Sim, cheguei onde estava desachando. Nostálgica, me atarantei, um certo rebuliço. Daí procrastinava, mas só um pouquinho. Eu vou. Vamos, então.
Nesse instante o rapaz descartou seu próprio corpo de tez mate fluindo para a forma do Cão. O cachorro-alazão, um arraçado Molosso e Dogue Alemão luminoso. Maria Elisa sem perder tempo subiu no dorso do animal de grande porte e focinho oblongo, o guia possante e fiável. Fixou-se com ambas as mãos ao pêlo cerdoso da cerviz, que empinou. Se comediu, na razão de sua tenacidade. Estou pronta. Pode ir. Tomaram o carreiro ermo e entraram no mato cerrado. À passagem a fronde limítrofe agitou-se exprimindo actividade intensa, que de longe soou a farfalhar de sorve-mácula. A cisão assombrosa. Do que fôra matéria orgânica.
Maria Elisa esperava-o e não esperava estranhar. Tanto, pois que foi, como a quem é desvendado um segredo que não pode transitar entre vivalmas. Pegou na sombrinha que estava encostada à coluna direita do pórtico da casa, abriu-a numa abertura de gente casual, tomou o lado de fora da porta e disse, pausando na sílaba do começo: tenho mêdo. Assim, abaixando a cabeça, recolhendo-a entre os ombros, muito menina de carapito no cabelo, a cara encovada, a voz sumida, a saia subida para mostrar as meias de seda rosa a dizer com o xaile delicado que lhe velava os ombros.
Ai, Maria Elisa, olhe bem para mim: acha que vim aqui para cortejá-la? Só lhe trago uma ideia fixa. Fez a forma da concha das mãos. Pula aqui, vai.
Maria Elisa olhou, como ele instruira, ainda inquieta, mais que pressentida. Eu sei que não, mas mulher nunca perde o brio, nem quando vira natureza singela. E quis dialogar. Diálogo curto, incisivo.
- Aonde irei agora?
- Isso importa? Tu está acontecida, Maria Elisa. Não puxa conversa que tonteia. As fábulas do verbo são d’atrás, do amanho bom e mau do coração. Põe ponto. Vem.
- E se a minha alma pena?
- Que à toa, Maria Elisa. Não regateia com coisas que sobejam o trato humano. Prosseguiu já em jeito de pia-melopeia:
E dos jacarandás mimosos
Perdem a silhueta
Quando as nuvens interpõem
Separando a Terra do Céu.
Entendeu agora, Maria Elisa?
- Sim, cheguei onde estava desachando. Nostálgica, me atarantei, um certo rebuliço. Daí procrastinava, mas só um pouquinho. Eu vou. Vamos, então.
Nesse instante o rapaz descartou seu próprio corpo de tez mate fluindo para a forma do Cão. O cachorro-alazão, um arraçado Molosso e Dogue Alemão luminoso. Maria Elisa sem perder tempo subiu no dorso do animal de grande porte e focinho oblongo, o guia possante e fiável. Fixou-se com ambas as mãos ao pêlo cerdoso da cerviz, que empinou. Se comediu, na razão de sua tenacidade. Estou pronta. Pode ir. Tomaram o carreiro ermo e entraram no mato cerrado. À passagem a fronde limítrofe agitou-se exprimindo actividade intensa, que de longe soou a farfalhar de sorve-mácula. A cisão assombrosa. Do que fôra matéria orgânica.
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