os bons sentimentos

Quando prenhe de bons sentimentos não me suporto. A piedade horroriza-me, a comiseração tortura-me, a complacência dá-me vómitos. E, no entanto, estão lá todas três, o grande resultado da educação católica a passar por laica, banidas missas e catequeses. E logo a mim, que sei admirar um genuíno filho da puta em actividade. O pior disto é que, prenhe de bons sentimentos, transformo-me na perfeita vítima dos chatos que andam por aí estrafegando o juízo a terceiros, demorando-se em pormenores inúteis, falando m-u-i-t-o-d-e-va-ga-ri-nho. Quando eu apareço, o chato alegra-se. Já cheirou ao longe a complacência e vai pô-la a render. O meu sofrimento é indizível: primeiro, porque me dói aturá-lo. Segundo, porque essa dor (a repugnância) me provoca um sentimento de culpa horrível. Se eu não fosse pecadora dava a outra face, estendia-lhe o tapete vermelho da comiseração para ele atravessar alegremente. Mas não. Os meus bons sentimentos não são suficientemente bons. É do caraças.

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