primeiro amor

Passei mal, passei muito mal. Andei frouxo, aos caídos e ao calhas, num desacato de criado-mudo. Pela cama, pelas cadeiras e poltronas de casa, pelos bancos de jardim, da escola, das paragens dos carros eléctricos e dos autocarros, nos sobrados, nas lajes e paralelipípedos da calçada, no cimento. Ela era mais velha. Na altura (que não agora), muitíssimo. Separavam-nos o dígito, uma dimensão e uma história muito mal contada. Na verdade, eu era um frangalho sem explicação. Um dente-de-leite magriçela, voz e sem-jeito afins, dedos lambuzados e mazelas dispersas pelo cortiço, amanhando fanfarrice e praguejo, ainda para mais com macaquinhos a morderem-se uns aos outros no lugar do diabo no sótão. Na minha fixa e consternada ideia a abissal diferença etária impedia quaisquer planos para o futuro. Desgraçadinha ideia, conste. Tão perfeito emparelhar de timidez, encarniçamento e sentimento elevado dá mais para o recalcamento do que para o resgate sublimatório que a fantasia inconfessável – pese a ingrata peleja com o superego – proporciona. Reflexos na vida adulta de 103 minutos em que a libido dominandi e o amor-próprio não prestaram para nada? Até ver a queda sedentária e para rasurar angústias com reparos pitorescos, o espírito de sacrifício – três vezes dois vezes um e meio corri a recinto obscuro – e contradições e paradoxos e coisas que não sei bem se são daquele ou deste lado. Exemplos? Um só, e de improviso (não queriam mais nada). É com desconforto e a encostar às viúvas com a toalha já a rodopiar rente à cabeça que confesso a relutância em fazer pouco dos Bee Gees. Mas não é o fim do mundo ou morte de sermonista. Enfronhando os affaires de coeur condirá o mal e o menos com a pontada e os afrontamentos. Loas ao Camilo, no prolegómeno do primeiro folhetim, Anátema de nome e (à) minha mercê. Ou quase. Para captar a leitora, precisar-se-á a história de uns amores trágicos, urgentes e lamentosos. Escandalizo? A cabeça que (m)o diga, das finuras. Mal ou bem nunca deixo a poeira e a certeza da salvação assentarem. Nem quando endomingo no dia errado e a oração não passa do papel até ficar presa de uma malha no collant da senhora que se segue.

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