danke schön, João e Simplício
A virtude é repugnante. Isto, que a minha tia mais nova me tentou meter na cabeça desde pequenina, foi a maior das contribuições para a economia da minha personalidade. Não só a virtude, ou a ética, ou o caraças, nos tolhem os movimentos no acesso ao dinheiro e ao poder, como também nos tornam menos desejáveis para o outro, ou a outra, ou para o eunuco de Atossa, a Grande. O Coleman do Roth da Mancha Humana despreza profundamente a filha virtuosa, irritantemente boa, atulhada de ética. Se as coisas são exactamente assim, a minha salvação (dizia a Tita) só seria atingida se eu fosse capaz de agir como uma cabra, uma linda cabra desprovida de choradinhos, uma cabra que não fosse repugnante à humanidade que, embora não o diga, abjura a virtude e a (ai que palavra irritante) bondade. Admito que, sem a Tita, eu não tivesse chegado aqui. Não era inato, mas foi adquirido. Penso ser, hoje, uma puta muito razoável.
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