prazeres à chegada

Nem deu tempo para a água-vai da praxe. A Maria dos Prazeres antecipou-se. E mais nada. Valha a verdade, sempre conheci a Maria assim. Apressada, competideira a ponto de pleitear com a própria sombra, mulher de poucos vagares e rogar pragas às moratórias e a quem nelas investe a querença. Quem lhe viu o começo acrescenta o(utro) ponto. Tivésseis presenciado e não estranharíeis. Achava-se a Senhora Sua Mãe na empresa dificultosa de botar a criatura ao mundo, com o foro-finca e os modos rudes inerentes à era pré-epidural, quando voz incerta anunciou, superlativamente: ai que vem aí, alguém que… Demasiado tarde, até para tomar a ideia. Quando voltaram a vê-la, estava estendida no chão da sala de parto a uns bons cinco metros de distância gesticulando fabulosamente, escorregando como podia. Franqueara de supetão, ou como já em casa assinalou a Tita – que andava entusiasmada a familiarizar-se com a gramática do amour passion – de tiro e queda. Não se conhecem efeitos traumáticos do pequeno incidente. Mas não falta quem na família desconfie que a invulgar precocidade com que aprendeu a dizer está frio e a impaciência que destina aos homens que a bailar calcam em cheio e rematam com desculpas que no passo seguinte se torna óbvio que não servem para nada vêm daí. Quanto ao afogadilho propriamente dito, vá-se lá saber se é inato ou lhe ficou para a vida.

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