(não) ser puta

Quando me chamaram puta pela primeira vez eu tinha dez anos. Em cima do telhado do ginásio, Luís Fernando gritou (e ninguém ouviu só porque era hora de almoço).
Puta
Depois mais alto PUTA
Os cinco anos seguintes vivi-os em horror e autofiscalização permanente: serei puta, sem querer? Luís Fernando (a quem traí sem pena mal acabei a primária) e o seu grito enxovalharam-me a infância. Puta, três vezes puta, centenas de dias puta. Anos mais tarde, quando o (não) ser puta se tornou uma questão mais amena, contei à Tita o meu horror infantil. Tita abanou a cabeça, tssst, tssts e então disse que o não ser puta era, isso sim, uma coisa lamentável e desestruturadora da personalidade.

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