qu’a ganda rata!
Aqui há uns (largos) anos atrás o Domingo Desportivo (ou um dos seus sucedâneos) elegia o golo da jornada valendo-se de um painel rotativo de convidados, por norma rapazes dados ao pincel, um desconsolo para a vista portanto. Pedia-se-lhes que escolhessem o melhor golo e justificassem a opção. Certa vez, um desses hóspedes, figura grada de uma outra modalidade desportiva, explicava (na verdade, descrevia) com o coração ao pé da boca e dicção sofrível o seu favorito: fintou dois adversários e meteu a bola por ’baixo da rata do guarda-redes. Desengane-se quem imaginar que se gerou, entre os presentes, silêncio comprometido, burburinho e sinalefas anacrónicas, sorrisos escarninhos, reflexos de duplo na hora do acidente normalmente mortal, que o caldo entornou, que o tipo ficou preso por arames. A coisa (lá entre eles) da eleição prosseguiu com toda a naturalidade, sem carência de piruetas gramaticais para neutralizar o sabor do tento. Pessoalmente, não me arrepela nem um bocadinho. Ao meu currículo não faltam rabos de palha, telhados de vidro e roda-livre inclusive em circunstâncias profissionais. Além disso, sai muito à casa. Não é todos os dias da semana que, pilhando de ouvido, se pode resgatar uma frase que impõe respeito para um dois-em-um que quase repara todos os domingos passados na terceira pessoa a tocar corneta e a aguentar os cavalos.