digressão (circular)

Maurizio Cattelan, Stadium [installation], 1991Correm à nova Luz à notícia, à parangona? Para quê? Por causa de uma carótida desobstruída num hospital pop-up em que até o pessoal médico, que era suposto fechar-se em copas, posa descaradamente para as câmaras como peculiar business specialist? Entra por um ouvido e sai por outro. Mesmo à viúva-alegre que não perde uma, nunca se faz rogada e não quer saber de entraves ao convívio. Talvez com umas carantonhas a mascarar a indiferença – haja objectiva por perto a induzir jogos de fachada, i.e. fazer convergir o acto de expressar no de impressionar.
Convalescença e paragem separaram-se há muito para o Eusébio da Silva Ferreira. As lesões nos joelhos e artelhos do Rei, do Pantera Negra, essas sim eram especiais, pecados para os adversários expiarem, razão para cismar, psicodrama, arrancar cabelos, mata-bicho, preces, temer o mau-olhado, chegar bem ao próximo (mais franzino), nostalgia do Império, economia do rumor, conversa e mais conversa. Ao Jorge Nuno, que comunga, não pergunto pelo Cântigo Negro do Régio. Isto ia logo a pique. Não, não vou por aí. Mas se não vou por aí é também porque por aí se dá guarida ao efeito de trinco que desencoraja – os Joes Mourinho e DiMaggio não me deixam mentir – distinguir a Kürville da Wesenville. Rendo-me à evidência. Na religião profana o cortejo passa (em grande estilo) mas está-se nas tintas para a matriz.
Pobre artista da bola, transformado em artesão do lazer alheio, signo consumível sujeito à tirania do estrelato, ao ciclo infernal do êxito aqui e agora, à voragem mercantil, à lotação esgotada, às audiências, à vertigem do tempo curto, da ascensão e do ocaso, da aura volátil, dos anátemas do velho e da sombra de si próprio, está acabado, d’o que eles querem é guita.
Grave não é el pibe de oro [deixa lá, Diego, o Messi não faz outra igual] morrer de cirrose, pancreatite, falência cardio-respiratória, da vida desregrada e das toxicodependências que normalizam as birras, o humor disfórico e o estardalhaço na compulsão descontrolada, ao mesmo tempo que repartem as culpas por vários cartórios. Tampouco é roubar (o lugar no panteão efémero), apontar para o Céu em sinal de agradecimento e em seguida prestar-se a liquidar em duas penadas a violência através de sintaxes prescritivas que rompem em recursos seguros tais como é a vida, acontece aos melhores, as coisas são o que são, ou até no provérbio ambíguo atrás de mim virá, quem de mim (bem) dirá. Grave, grave é a fatalidade tacitamente reeditada, a impotência, que vai de segunda intenção a bom senso, princípio de realidade exemplar para todos – the sense of one’s place. Antes tivéssemos todos nascido ontem, sem herança, sem agencialidade, sem intersubjectividade, sem predicados, sem manipulação de impressões, sem provas de grandeza (e miséria).
Sabeis que mais? Já que (dizem que) a revolução mete medo ao susto, ao menos aproveitemos o Zeitgeist para (à míngua de melhor) popificar o 24 de Abril e afastar em definitivo o fantasma depressivo e os revivalismos saudosistas. A palavra há-de puxar algum tráfego de objectos e fluidos. A modos de temos de ser uns para os outros e à pinha. Aperte-se o cerco ao intuito. Na falta de mulher, ninguém (me) pode criticar o apetite por sobrinhas. Que diacho de acrobacia final é esta? A teoria da dissonância cognitiva explica(-me, mas não convence).

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