encruzilhada
Estamos mal, mortiços, do fundo do coração aos bolsos vazios, dos abismos fronteiros ao catre, oprimidos pelo sim e pelo não e pelo paradoxo do homo sacer(inho) – ah, nas horas difíceis o majestático é mesmo um consolo. A clandestinidade (quase cumprida à risca) já foi chão que deu uvas, mas a alternativa – sair do baú da copa da cozinha para o mundo – é um compromisso demasiado virgulado (e ingrato) para nosso gosto – além de que dispensamos os guizos, a propaganda e a provável pateada. Como estamos, gastamos o que temos e o que não temos a resmungar: isto não pode continuar assim e assim sucessivamente. Uns náufragos mal agradecidos e piegas é o que somos. A fazer por uma vida de becas, bodos variados, tinto do bom, sexo do bom e do bonito, algum ar puro e nódoas laváveis com sangue, suor ou lágrimas. Eis-nos. Entre o realismo e os doze anos. Não obstante os indícios, isto não é o começo e o fim de uma contrição (guinada?) cadavérica. Voltaremos. Aqui, noutra balsa, os mesmos ou mais, de preferência. Demorando uma pequena eternidade, um pouco mais ou menos ou daqui a nada, na paz do ponto final, imortalizando cólicas virtuais e estroinices não menos impossíveis, sensíveis a sinais de revolta e salvação, aos bons sentimentos e a tantos outros, aos limites impostos pelos livros de estilo ou antes pelo contrário. Quando for, quem sabe? De fluxo piroclástico para cima. Desde que não adquira os foros de alopatia seminal que algumas cabecitas mais maliciosas se apressarão a conjecturar. Evidentemente, continuaremos a bater as moitas e os carrascos em volta. Para fecho de capítulo, ficam aí em baixo um para a coxa, outro para a alma. Só para mais tarde recordar o ciclo, o móbil e este exercício de advogado do diabo.